GABRIEL ANTÓNIO de SERPA MAGALHÃES


Filho de Rafael de Magalhães e Maria Malheiros de Serpa nasceu em S. Roque do Pico (Açores) no dia 16 de Junho de 1936. Seu pai era funcionário público na área das Finanças pelo que estava sujeito a transferências de residência frequentes, em média de cinco em cinco anos. O irmão João que escreve esta nota nasceu em Santa Cruz das Flores a 4 de Setembro de 1937.e, naturalmente compartia brincadeiras com o Gabriel. Repescando recordações na profundidade dos tempos encontro-me já na vila do Nordeste, em S. Miguel no Natal de 1939. A Alemanha tinha invadido a Polónia e naquele quase fim do mundo meu pai tinha-se equipado com um objecto raro, um rádio que funcionava com uma bateria enorme para assim poder acompanhar melhor a evolução dos desgraçados acontecimentos bélicos.Numa sala desocupada meu pai surpreendeu-nos com um presépio enorme, com relevos construídos com rochas naturais de cor vermelha garrida e onde sobressaía a gruta com todas as figuras tradicionais. No meio da sala encontrava-se erguido como um farol um aquecedor alimentado a querosene.Ambiente perfeito para iniciarmos uma brincadeira a sério. O Gabriel muito ao seu estilo sentou-se no chão e deu ordens: vai buscar os bonecos ao presépio. Que rica ideia. Rapidamente foi crescendo uma formatura de bonecos perfeitamente alinhados imitando bem o estilo militar exibido nas revistas. Nestas manobras trocavamos opiniões sobre as personagens represenadas. Eu escutava pois a minha capacidade de falar ainda ensaiava as primeiras frases. Chamou-me a atenção a forma cuidadosa como o mano Gabi tinha colocado as figuras da gruta e, em particular, o destaque dado ao bonequinho deitado nas palhinhas doiradas. Quando o Gabriel pediu mais bonecos disse-lhe que já não havia mais, a não ser um boneco muito feio em forma de cobra amarela com manchas pretas colocada à beira dum prato com água qual lago cheio de perigos. A nossa mãe disse que aquele animal era muito mau e feio e que ela não gostava nada dele que até podia desaparecer... Aproximamo-nos do tão temerário bicho mau e olhamos um para o outro a ver qual de nós se atrevia a tocá-lo. Resolvi dar-lhe um safanão que o mergulhou no lago seguido duma gargalhada dos dois manos. O Gabriel comentou; foi tomar banho a ver se fica mais bonito! Como as investigações não pararam notamos que a água lhe amolecera o corpo. O Gabriel com o braço muito esticado pegou nele e retirou-o da água. Fixou o olhar numa fenda entre duas rochas vermelhas e com evidente intenção espremeu a cabeça da serpente que sem dificuldade penetrou na cavidade. Mais uma gargalhada iniciou a repetição do gesto que rapidamente fez desaparecer a peça indesejável do nosso lindo presépio. Foi com redobrado prazer que as figuras regressaram a Belém livres de ameaças. A noite caíu e o pai chegou a casa apressado para todo o trabalho que seria conseguir uma sintonia satisfatória para as notícias do dia.Meninos silêncio, pouco barulho. Rádio ligado rodava um botão e começavam os primeiros silvidos de sons estranhos, cuspidelas, assobios garrafas a baterem umas nas outras ... ah! cá está, dum! dum! dum! dum!dum! dum! dum! dum! Até que soava estridente em três toques rápidos uma qualquer gaita. E, por fim uma voz anunciava: aqui a Voz de Londres! Fernando Peça. A partir daqui era a parte pior porque o silêncio era rigoroso para que o pai ouvisse as notícias de todas as desgraças da guerra.

Falecido em 25 de Fevereiro de 2020






Caros Amigos:

Sou o Gabriel António de Serpa Magalhães,

Ainda trabalho, dou aulas na
Escola Secundária Artística de Soares dos Reis no Porto
e trabalho em Arquitectura sempre que posso
ou desenho e pinto, ou colecciono selos antigos.
Já visitei o vosso "sitio" na internet e gostei.
Se tiver fotografias mando-vos.

Um grande abraço,

Gabriel A. Serpa Magalhães

gabrielserpamagalhaes@gmail.com
Telemóvel 968 024 265


Exemplos dos meus trabalhos

Ao calor da fogueira

Ao calor da fogueira

A Lavadeira

A lavadeira